O Berço da Aviação e a Indústria Aeroespacial

Localizada no sudoeste da França, às margens do rio Garonne, Toulouse não é apenas conhecida por sua arquitetura renascentista e pela deliciosa gastronomia regional. A "Cidade Rosa", como é chamada devido aos tijolos de terracota que adornam seus edifícios históricos, conquistou um lugar de destaque no cenário mundial como uma das capitais globais da indústria aeroespacial.
A sua história aeronáutica começa mais cedo do que muitos imaginam. No início do século XX, quando a aviação ainda dava seus primeiros passos, a região já demonstrava vocação para os céus.
Os pioneiros: Latécoère e a Aéropostale
Em 1917, em plena Primeira Guerra Mundial, o empresário Pierre-Georges Latécoère estabeleceu sua fábrica de aviões em Toulouse. O que inicialmente era uma instalação para produção de aeronaves militares logo se transformaria no embrião de algo muito maior.
Após o fim da guerra, Latécoère enxergou uma oportunidade única: usar aviões para transportar correspondências. Foi assim que nasceu, em 1918, a Société des Lignes Latécoère, que em 1927 daria origem à lendária Aéropostale.
A companhia atraiu pilotos aventureiros e visionários, sendo o mais famoso deles Antoine de Saint-Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe. Ele e seus colegas não eram apenas aviadores: eram verdadeiros exploradores, traçando rotas inéditas e enfrentando tempestades e desertos para conectar continentes através do correio aéreo.
As bases geográficas e estratégicas
A escolha de Toulouse como centro dessas primeiras aventuras não foi aleatória. A cidade oferecia uma localização privilegiada, entre o Atlântico e o Mediterrâneo, funcionando como porta natural para a Espanha e o Norte da África. O clima ensolarado e com pouca neve reduzia interrupções operacionais, e as vastas planícies ao redor forneciam espaço ideal para pistas e fábricas.
Essas vantagens consolidaram a cidade como um ponto de partida natural para a aviação francesa.
Da Segunda Guerra Mundial à reconstrução
A Segunda Guerra Mundial foi um período conturbado para Toulouse. Sob o regime de Vichy e a ocupação alemã, as fábricas locais, como as da SNCAM, continuaram produzindo aeronaves, incluindo o caça Dewoitine D.520, que chegou a ser utilizado tanto pela França quanto por forças colaboracionistas e alemãs.
Após a Libertação, o governo francês decidiu investir pesadamente na reconstrução da indústria aeronáutica nacional, preparando o terreno para a consolidação que viria na década seguinte.
O nascimento da Sud-Aviation e o Caravelle
Em 1º de março de 1957, a fusão de várias companhias resultou na criação da Sud-Aviation, com sede em Toulouse. Foi essa empresa que levou adiante o desenvolvimento do Caravelle, o primeiro jato comercial de curto e médio alcance produzido na Europa.
O Caravelle havia realizado seu primeiro voo em 27 de maio de 1955, ainda sob a SNCASE, mas foi a Sud-Aviation que industrializou o projeto. Montado em Blagnac, o Caravelle tornou-se um marco da aviação civil europeia, consolidando Toulouse como centro de excelência em design e fabricação aeronáutica.
A criação da Airbus: um esforço europeu
No final dos anos 1960, a indústria europeia estava fragmentada e com dificuldade de enfrentar os gigantes americanos como Boeing e McDonnell Douglas. Para mudar esse cenário, França e Alemanha uniram forças em 1970 para fundar o consórcio Airbus Industrie. A Espanha se juntaria em 1971 e o Reino Unido, após sair do projeto em 1969, retornaria como sócio pleno em 1979.
Toulouse foi escolhida como sede operacional por razões decisivas: as instalações herdadas da Sud-Aviation, a mão de obra altamente qualificada formada nas escolas de engenharia locais, o apoio do governo francês e a localização estratégica para a cooperação europeia.
O primeiro programa da nova empresa foi o A300, um jato de fuselagem larga para rotas de média distância, que voou pela primeira vez em 28 de outubro de 1972 e entrou em serviço em 1974. Esse lançamento marcou a entrada da Europa no clube restrito da aviação comercial de grande porte.
A consolidação do polo aeroespacial
A partir dos anos 1980, Toulouse assistiu a uma expansão acelerada. A Airbus liderou o crescimento, atraindo ao seu redor uma vasta constelação de fornecedores e centros de pesquisa. Hoje, a cidade abriga não apenas a linha de montagem final de aeronaves como o A321 e o A350, mas também um dos principais centros de Pesquisa & Desenvolvimento do grupo.
Além da Airbus, Toulouse é lar do CNES, Centre Spatial de Toulouse, o maior centro técnico do programa espacial francês, e da Thales Alenia Space, que opera na cidade desde 1983 e se destaca como referência mundial em satélites e sistemas espaciais.
Orbitando em torno dessas instituições, encontra-se o cluster Aerospace Valley, que reúne centenas de empresas, formando um dos maiores ecossistemas aeroespaciais do mundo.
Sobre o autor: Meu nome é Gunther Masi Haas. Sou desenvolvedor web, e atualmente trabalho também como designer multimídia na Biarritz Turismo. Apaixonado por cultura e história, escrevo sobre diversos aspectos da história da França e suas ricas tradições. Para saber mais sobre meu trabalho, siga o blog e acompanhe minhas publicações.
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