A Torre Vermelha - O Cubismo Colorido de Delaunay

Grandes Pinturas
– Episódio 5
No episódio anterior, exploramos a luz serena e contemplativa de "O Astrônomo" de Vermeer, onde o mestre holandês do século XVII capturava um momento de quietude científica. Hoje, damos um salto no tempo e mergulhamos na explosão cromática do início do século XX. Saímos do ateliê silencioso para as ruas frenéticas da Paris moderna, da luz que entra pela janela para a cor que estrutura a própria realidade. Bem-vindos ao universo vibrante de Robert Delaunay.
Quando a Cor Se Tornou Movimento
Em 1911, Robert Delaunay iniciou uma das obras centrais de sua fase orfista / simultanista: Champs de Mars, La Tour Rouge. Embora inserida no universo do cubismo, essa obra marca sua ruptura com o cubismo monocromático, pois Delaunay desloca o foco da forma para a cor como agente estrutural e expressivo.
A Torre Eiffel como símbolo moderno
A Torre Eiffel assumiu papel de tema recorrente no trabalho de Delaunay entre 1909 e 1912, representando o símbolo da modernidade, da cidade moderna, da estrutura industrial e da ambição urbana.
Em La Tour Rouge, a torre emerge não em seu tom metálico habitual, mas em gamas vibrantes de vermelho, laranja e rosa, escolhas que sustentam uma leitura estética: a cor não é mero adorno, mas constituinte da forma.
Simultaneidade cromática e fragmentação
Delaunay desenvolveu uma prática que ele chamava de Simultanismo, inspirada na idéia do contraste simultâneo de cores formulada por Michel-Eugène Chevreul. Segundo essa teoria, a percepção de uma cor depende de suas vizinhanças cromáticas, os tons se intensificam ou vibram mutuamente.
Ele compôs suas obras em planos de manchas coloridas, sobreposição, justaposição e transições tonais, de modo que as cores interagissem ativamente, gerando sensações de pulsação, profundidade óptica e movimento. Em obras como Sun and Moon, essas ideias se manifestam em composições circulares irradiantes de cor.
Ao mesmo tempo, Delaunay retém vestígios do cubismo: fragmentando visualmente a torre e o entorno, ele propõe múltiplas visões simultâneas, rompendo com o véu único da perspectiva tradicional.
A cor como essência perceptiva
Ao integrar céu, edifícios e nuvens ao seu jogo cromático, Delaunay transforma o fundo em parte ativa da vibração visual, não um palco neutro. Críticos modernos notam que as nuvens em La Tour Rouge, por exemplo, assumem presença quase autônoma no equilíbrio cromático da tela.
Para ele, ver não era um ato passivo, mas uma experiência dinâmica e simultânea: múltiplas impressões visuais se justapõem no instante criativo. Em alguns momentos, sua pintura dialoga com o musical, cores e formas como ritmos visuais que ecoam sensações interiores.
Simbologia e contexto histórico
Pintada antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial, La Tour Rouge capta uma atmosfera de confiança no progresso e na energia da era moderna. A torre, reconfigurada em luz e cor, torna-se um manifesto visual de otimismo tecnológico e urbano.
Ainda assim, é importante notar que Delaunay não abandonou por completo o vínculo com o visível, seus quadros permanecem tensionados entre o representacional e o abstrato.
Sobre o autor: Meu nome é Günther Masi Haas. Sou desenvolvedor web, e atualmente trabalho também como designer multimídia na Biarritz Turismo. Apaixonado por cultura e história, escrevo sobre diversos aspectos da história da França e suas ricas tradições. Para saber mais sobre meu trabalho, siga o blog e acompanhe minhas publicações.
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